“Os negros de fora do Brasil são muito mais valorizados do que os nossos”: Carlinhos Brown aborda questão racial no país e relembra detalhes de sua trajetória em podcast original da Deezer
O artista contou histórias inéditas da sua carreira – como a descoberta do seu interesse pela música através de utensílios domésticos – e relembrou sua apresentação polêmica no Rock in Rio de 2001
Percorrendo memórias da sua infância pobre no bairro do Candeal em Salvador até as histórias por trás de seus grandes sucessos, Carlinhos Brown contou detalhes da sua carreira com a jornalista Roberta Martinelli no podcast “Essenciais”, original e exclusivo da Deezer. Considerado um dos artistas brasileiros mais criativos e inovadores do País, Brown deixou nítida sua paixão pela música e destacou a importância da arte como ferramenta de transformação na sociedade.
Filho de mãe lavadeira e pai pintor de paredes, o cantor guarda com carinho as lembranças de seus pais e vizinhos cantando enquanto trabalhavam pelo bairro. Ajudando sua mãe a carregar baldes de água para lavar roupa, Brown descobriu seu interesse pela música e a leveza que ela trazia no dia a dia das pessoas. Utilizando utensílios domésticos e as latas para batucar, o cantor alegrava os vizinhos por onde passava: “Aquilo era mágico, provocava uma alegria no bairro”, diz Brown.
Inspirado pela mistura da música clássica com as canções dos terreiros de candomblé que tocavam em constância no seu bairro, o artista teve seu despertar para a percussão: “Foi ali que a minha encruzilhada musical começou.”. Ainda jovem, trabalhando pela cidade vendendo picolé, Carlinhos foi convidado a tocar percussão em um show dentro de um colégio de elite, causando alvoroço e vibração do público que o assistia. Graças a sua performance, o músico foi convidado a tocar como percussionista na banda Mar Revolto. A partir daí, sua carreira começou a deslanchar brilhantemente.
Contratado pela gravadora WR, Brown passou a produzir jingles publicitários e músicas para outros artistas, sendo uma delas a música “Fricote” de Luiz Caldas. Depois de tantos sucessos, o artista resolveu criar sua própria banda e assim surgiu a Timbalada. Com som característico do timbal, instrumento que dá nome ao grupo, o álbum de estreia da banda conta com a faixa “Tá na mulher”, uma das músicas mais famosas da de sua carreira. Após o sucesso da banda, ele decidiu seguir carreira solo, lançando o álbum “Alfagamabetizado”, em 1996, com sucessos marcantes como “Quixabeira” e a “A namorada”.
Mas nem só de alegrias vive a carreira de um artista. Um dos momentos mais memoráveis da carreira do cantor foi sua apresentação no palco mundo do Rock in Rio de 2001, que Carlinhos Brown gosta de lembrar como um grande aprendizado. O músico foi vaiado pelo público majoritariamente fã de rock do festival que chegou a jogar latinhas durante a performance. “De forma nenhuma aquilo foi um escárnio, eu precisava passar por aquilo e o Brasil precisava passar por aquilo. Eu não fiquei inimigo daqueles meninos, nós estávamos fazendo o que o rock’n roll precisava, ali nós éramos a atitude e o showbusiness eram os outros”, conta Brown sobre o acontecimento.
Com Marisa Monte e Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown lançou, em 2002, o projeto Tribalistas. O músico afirma que o lema deles é tão forte que acaba afinando os três artistas de uma forma que “beira um êxtase de clareza”. O grupo foi um sucesso pelo mundo todo e atire a primeira pedra quem já não cantou e se emocionou com “Já Sei Namorar” e “Velha Infância”.
Já em 2020, Carlinhos Brown lançou a música “Abota”, uma crítica ao preconceito racial e a desigualdade social no Brasil. Na música, o artista destaca os versos: “Não consigo respirar/ O asfalto está ciente/ Não sou o assalto/ Não sou o delito/ Só sou mais um homem preto/ Por favor ouve meu grito”
“A gente ainda tem um desinteresse enorme de nos juntarmos. Os negros de fora do Brasil são muito mais valorizados do que os nossos”, comenta Brown.
Ficou curioso e quer saber mais sobre a trajetória de Carlinhos Brown? Ouça o episódio completo aqui.