As melhores músicas de MPB: um guia completo

A canção brasileira é, sem dúvida, uma das mais ricas e impactantes do mundo. Dentro desse patrimônio musical, temos os melhores sucessos da música popular brasileira, a famosa MPB. Neste conteúdo, você vai saber mais sobre a história desse gênero tão importante, relembrar seus grandes hits e conhecer as canções da nova geração da MPB. Confere aí!

A história da MPB

A Música Popular Brasileira (MPB) é uma das mais ricas e diversificadas manifestações musicais do Brasil. Ela surgiu um pouco depois do surgimento da Bossa Nova, movimento dos anos 50, e se consolidou como gênero musical nos anos 60, com a Tropicália. 

Este gênero musical reuniu dois movimentos importantes vistos como divergentes: a Bossa Nova e a música dos Centros Populares de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE). De forma simples, os amantes da bossa defendiam a sofisticação musical, mas os estudantes valorizavam a música das raízes brasileiras.

Com o golpe militar de 1964, os grupos passaram a defender os mesmos interesses. Para isso, criaram uma frente ampla cultural contra o regime militar. Foi então que a sigla MPB surgiu como símbolo da luta política e cultural. Grandes e conhecidos nomes, como Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil apareceram naquele momento.

Clássicos eternos da MPB

Essas são as músicas mais icônicas de todos os tempos da MPB que não podem faltar na sua playlist. Elas representam diferentes épocas e estilos que contemplam a canção popular brasileira. Os títulos estão acompanhados de seus intérpretes mais famosos. Vamo lá!

Águas de Março — Elis Regina e Tom Jobim

“Águas de Março”, composição de Tom Jobim, eternizou o seu dueto com Elis Regina e rodou o mundo, se tornando a versão definitiva da música, no disco “Elis & Tom” de 1974. Em 2023, o documentário “Elis & Tom, Só Tinha de Ser com Você” trouxe depoimentos e imagens inéditas das gravações do álbum. Entre elas, a icônica performance que você pode conferir abaixo:

Alegria, Alegria — Caetano Veloso

“Caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento…”. “Alegria, Alegria”, composição do próprio Caetano Veloso, foi um marco da Tropicália e ficou em 4º lugar no Festival da Record de 1967. Os festivais de canções na TV daquela época eram muito famosos e foram o berço da MPB. A letra, que falava sobre liberdade em plena repressão do regime ditatorial, marcou uma geração inteira. 

Anunciação — Alceu Valença

É bem provável que você já tenha escutado “Anunciação” em muitas versões, inclusive eletrônica. Afinal, a canção de Alceu Valença, cantor e compositor pernambucano, figura desde seu lançamento (1983) entre as MPB mais tocadas.

Ela pode ser interpretada de diversas formas, inclusive como uma divagação filosófica. Recentemente, os versos “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais” foram cantados pelos apoiadores do então candidato Lula durante as eleições presidenciais de 2022. Ou seja, é uma das MPB antigas que serve para muitos contextos.

Alceu Valença
Alceu Valença

Baby — Gal Costa

Uma das canções mais famosas na voz de Gal Costa, “Baby” é uma composição de Caetano Veloso, que a escreveu em 1968 sob encomenda de Maria Bethânia. A música fez tanto sucesso que Gal gravou a canção mais cinco vezes, e recentemente fez um belo dueto com Tim Bernardes para a sexta regravação de Baby.

O Mundo é um Moinho – Cartola

Alerta de lencinho. “O Mundo é um Moinho” é uma canção de Cartola para sua filha adolescente falando sobre as dificuldades que a esperam pela vida: “Preste atenção, o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos tão mesquinhos”.

Em um ritmo lento e sentimental, essa música se tornou uma das MPB mais tocadas, pois foi regravada por grandes artistas como Cazuza, Beth Carvalho e Ney Matogrosso.

Chão de Giz — Zé Ramalho

“Eu desço dessa solidão e espalho coisas sobre um chão de giz”. Se você não entendeu nada dos versos iniciais de “Chão de Giz”, tamo juntes! Um dos maiores sucessos de Zé Ramalho, gravada em 1978, é pura metáfora sobre a brevidade da vida. Mas também dizem por aí que ela é fruto de uma ruptura amorosa do cantor e compositor. O importante é que, com sua voz e interpretação marcantes, Zé Ramalho imortalizou esses versos!

Garota de Ipanema — Vinícius de Moraes e Tom Jobim

Em 1962, Tom Jobim e Vinicius de Moraes criaram aquele que seria o grande cartão-postal da Música Popular Brasileira no exterior: “Garota de Ipanema”. Escrita em homenagem à Helô Pinheiro, esse hino da Bossa Nova foi cantado por grandes nomes da música internacional, como Ella Fitzgerald, Nat King Cole e Frank Sinatra. 

Brasil Pandeiro — Novos Baianos

Aqui está uma das bandas mais criativas da história da MPB: os Novos Baianos. Seu maior sucesso, “Brasil Pandeiro”, do imperdível disco Acabou Chorare (1972) exalta a cultura brasileira com muita graça, ritmo e autenticidade. O grupo, que conta com o grande Moraes Moreira e a cantora Baby do Brasil, marcou a história da música brasileira de forma única e inesquecível, com outros sucessos como “Mistério do Planeta”, “Preta Pretinha” e “A menina dança”. 

Maria, Maria — Milton Nascimento

“Maria, Maria”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, é um hino que celebra a força e a resiliência da mulher brasileira. Lançada em 1978, a música mescla elementos de MPB e influências do jazz, destacando a voz marcante de Nascimento e sua capacidade de transmitir emoção. Com letras poéticas que falam sobre a luta e a beleza feminina, a canção se tornou um hino de empoderamento, ressoando profundamente na cultura brasileira.

Asa Branca — Luiz Gonzaga

“Asa Branca” é um dos maiores clássicos da música brasileira, composta por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira em 1947. A canção retrata a saudade e a migração dos sertanejos nordestinos, que buscam uma vida melhor longe da seca e da aridez de sua terra natal. Luiz Gonzaga também era conhecido como o Rei do Baião, já que ele foi o responsável por espalhar o gênero pelos quatro cantos do país.

Chega de saudade — João Gilberto

“Chega de Saudade” é a canção que marca o início do movimento da Bossa Nova e consolidou João Gilberto como um dos maiores nomes da música brasileira. Lançada em 1958, a composição de Tom Jobim e Vinícius de Moraes combina harmonias sofisticadas com um ritmo suave e descontraído, criando uma atmosfera nostálgica. 

As letras falam sobre a saudade, um sentimento que todos nós brasileiros já sentimos, não é mesmo? É por isso que essa canção consegue criar uma conexão emocional com ouvintes de todas as gerações.

Mas que nada — Jorge Ben

“Mas que Nada” é uma canção eletrizante de Jorge Ben, lançada em 1963, que mistura samba e influências do jazz e da música africana. Com sua batida inconfundível e letras divertidas, a música fala sobre a alegria de viver e o prazer da dança. “Mas que Nada” ganhou reconhecimento internacional, especialmente nas versões de Sergio Mendes e Black Eyed Peas, tornando-se um verdadeiro representante da cultura brasileira e um convite irresistível à celebração.

A ditadura militar e a MPB

Sabemos que a história da MPB está intimamente ligada ao período de repressão da ditadura militar brasileira (1964-1985). No entanto, algumas canções se tornaram verdadeiros hinos de resistência. Aqui estão algumas delas:

Pra não dizer que não falei das flores — Geraldo Vandré

Geraldo Vandré é o artista responsável pelo grande clássico “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”, lançado em 1968. A música chegou a ser censurada e proibida pelo regime militar por ter se tornado um hino de resistência. Por essa razão, o peso emocional dessa canção ainda é grande, com seus versos: Vem, vamos embora

Que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

O bêbado e o equilibrista — Elis Regina

Essa é uma canção emblemática interpretada por Elis Regina e composta por João Bosco e Aldir Blanc. Ela também se tornou um símbolo da resistência contra a repressão durante a ditadura militar no Brasil. 

Lançada em 1974, a música apresenta uma narrativa poética que retrata a fragilidade da vida e a luta pela liberdade, utilizando metáforas para abordar temas como a opressão e a esperança. A interpretação intensa de Elis Regina, combinada com a profundidade lírica da canção, transforma-a em um grito de resistência, ecoando o desejo de um Brasil mais justo e democrático.

Cálice — Chico Buarque e Milton Nascimento

“Cálice” é uma das canções mais potentes e subversivas da MPB, composta por Chico Buarque e Milton Nascimento em 1973. A letra, que utiliza o trocadilho entre “cálice” e “cale-se” reflete o sentimento de repressão e censura vivido durante a ditadura militar, simbolizando a luta do povo brasileiro por voz e liberdade. 

Coração de estudante — Milton Nascimento

A canção “Coração de estudante”, composta por Wagner Tiso e interpretada por Milton Nascimento, está profundamente ligada ao movimento das Diretas Já, que emergiu nos anos 1980 como uma resposta à ditadura militar brasileira, clamando por eleições diretas para a presidência. 

Durante as manifestações, que reuniram milhões de pessoas em todo o país, “Coração de estudante” simbolizou não apenas a exigência de mudanças políticas, mas também o poder da música como ferramenta de resistência e mobilização, incentivando a sociedade a continuar buscando um Brasil mais justo e igualitário.

Músicas de MPB sobre questões sociais e políticas

O aspecto politizado na MPB ainda é bastante forte, se renovando tanto poética como musicalmente. Vamos ver agora alguns exemplos em períodos mais recentes, pós-ditadura militar:

Marielle Franco — Jorge Mautner

A canção “Marielle Franco”, lançada por Jorge Mautner em 2019, é uma homenagem à vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em março de 2018. A música reflete a indignação e a dor causadas por sua morte, que simboliza a luta contra a violência, o racismo e a opressão que afetam a população negra e as minorias no Brasil. 

Mautner, compositor de sucessos como “Lágrimas negras”, “Maracatu atômico” e “Vampiro”,  utiliza a canção para ressaltar a importância de Marielle como uma voz representativa e corajosa na defesa dos direitos humanos. A pergunta “Quem mandou matar Marielle?” ficou anos sendo ecoada por milhares de brasileiros.

AmarElo — Emicida, Felipe Vassão e DJ Juh

“AmarElo” lançada em 2020, é uma canção que fala sobre a opressão, a depressão sentida na pele pelas adversidades emocionais e sociais. A letra fala sobre resistência, indignação e esperança, até por ter a citação da música de Belchior “Sujeito de sorte”: “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”. 

Ainda em 2020, foi lançado o imperdível documentário Emicida: AmarElo – É tudo pra ontem. A descrição oficial é a seguinte: “Nos bastidores do show no Theatro Municipal de São Paulo, o rapper e ativista Emicida celebra o grande legado da cultura negra brasileira.” (Netflix, Laboratório Fantasma). Já o clipe conta com as participações de Maju e Pabllo Vittar, o que faz de “AmarElo”uma verdadeira obra-prima do artista:

Da Lama ao Caos — Chico Science e Nação Zumbi

“Da Lama ao Caos” lançada em 1994 por Chico Science e Nação Zumbi, é uma canção emblemática que retrata a realidade e a cultura do manguebeat, um movimento que emergiu em Pernambuco. A música aborda as desigualdades sociais, a pobreza e a exclusão vividas nas periferias, ao mesmo tempo em que celebra a riqueza cultural do Nordeste. Com uma mistura de ritmos regionais, rock e hip-hop, a canção desafia estereótipos e busca dar voz a uma população marginalizada. 

Celebrando a cultura afro-brasileira na MPB

Canto de Ossanha — Baden Powell e Vinícius de Moraes

Essa é uma canção que explora as tradições da religiosidade afro-brasileira, assim como todas as faixas do álbum Afro-Sambas (1966). Com uma melodia envolvente e uma harmonia rica, a canção combina elementos da música popular brasileira com ritmos de terreiro e coro, criando um espaço de celebração e reverência. As letras poéticas de Vinícius evocam imagens vívidas e simbolismos que ressaltam a força dessa ancestralidade no Brasil.

Cangoma me chamou — Clementina de Jesus

Esse samba, que ganhou destaque na voz de Clementina de Jesus, reflete a rica herança das cantigas de trabalho africanas, conhecidas como vissungos, que frequentemente contêm mensagens em código. Ela pode ser vista como uma convocação para a (re)conquista da liberdade, simbolizando o despertar da consciência coletiva contra a opressão. 

Canto das três raças — Clara Nunes

O icônico “Canto das três raças”, de Paulo César Pinheiro e interpretada por Clara Nunes, é uma canção que evoca a formação do povo brasileiro, unindo as influências das culturas indígena, africana e europeia. A letra fala principalmente sobre o sofrimento do negro escravizado.

Por isso, é uma canção que não se esquece que a nossa história é carregada de dores e traumas: “E de guerra em paz, de paz em guerra, todo povo desta terra quando pode cantar, canta de dor”. 

Canções MPB de amor e cotidiano

O amor é um dos temas que mais inspiram compositores e cantores ao redor do mundo. E é claro que no Brasil isso não é diferente! Vamos falar de amor romântico na MPB? É pra já!

Drão — Gilberto Gil

“Quem poderá fazer aquele amor morrer?
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão”

“Drão”, de Gilberto Gil, foi destinada à Sandra Gadelha, a Drão, mãe de seus filhos Pedro, Preta e Maria. É uma composição bonita, como muitas de Gil, mas com a curiosidade de que ela foi escrita em ocasião do divórcio do casal. Sem rancor e sentimentos ruins, a canção descreve a transformação dos sentimentos com o passar do tempo.

Gilberto Gil
Gilberto Gil

Dia Branco — Geraldo Azevedo

Lançada em 1972, ‘Dia Branco’ é uma canção de amor que rapidamente se tornou um clássico da música popular brasileira. A letra poética e melódica evoca imagens de um amor idealizado, destacando a beleza e a fragilidade das emoções humanas. A canção é marcada por uma sonoridade suave e envolvente, que mistura elementos da música nordestina com influências da bossa nova. “Dia Branco” reflete a busca por um amor puro e duradouro, transportando o ouvinte para um estado de contemplação e serenidade, e solidificando a obra de Azevedo como uma expressão autêntica dos sentimentos amorosos.

Todo amor que houver nessa vida — Cazuza

“Todo Amor Que Houver Nessa Vida” lançada em 1989, é uma das canções mais icônicas de Cazuza, que também é o coautor da letra. A música é um desabafo apaixonado que explora a intensidade do amor, da sensorialidade e fala da vida em toda sua complexidade: “Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida…”. Esta canção também conta com uma belíssima regravação de Caetano Veloso.

Músicas dos novos artistas da MPB

Se você pensar em músicas atuais da MPB, poderá vir à cabeça alguns nomes já consolidados, como os das cantoras brasileiras Marisa Monte, Cássia Eller ou Maria Gadu. Porém, resolvi trazer aqui alguns artistas ainda mais recentes, com ressalva para uma menção honrosa: Elza Soares.

A Mulher do Fim do Mundo – Elza Soares

“A Mulher do fim do mundo” é a própria Elza, mas também a canção lançada em 2015 em seu 34º disco. Quem assina a composição é Rômulo Fróes, com sua letra falando sobre resistência: “Mulher do fim do mundo eu sou, eu vou, até o fim, cantar”. A sonoridade da canção foi definida pela diva, que nos deixou em 2022, como “samba punk”.

Ai, Amor — Anavitória

Lançada no álbum “O Tempo é Agora”, de 2018, “Ai amor” é um dos sucessos de Anavitória que ajudou a dupla a alcançar um lugar de destaque na música brasileira: “Ai, amor…Será que tu divide a dor do teu peito cansado com alguém que não vai te sarar?”

Elas vêm lançando muitas músicas que se enquadram na MPB (na visão de alguns, na nova MPB). Aliás, a nova MPB segue sendo a mistura de brasilidades que a Música Popular Brasileira traz. O termo “nova” apenas designa o gosto da atual geração que se relaciona com a expressão artística dos artistas atuais.

Banho de Folhas — Luedji Luna

Um dos nomes mais promissores da atual MPB, Luedji Luna ficou conhecida ao redor do Brasil com a música “Banho de Folhas”. Cheia de fé e axé, essa é uma das músicas atuais de MPB mais tocadas nas rádios e nos streamings. Presente nos blocos de carnaval espalhados ao redor do Brasil, o ritmo dela é realmente contagiante. “Oxalá quem guia!”

Luedji Luna
Luedji Luna

Nascer, Viver, Morrer – Tim Bernardes

“Nascer, Viver, Morrer” é considerada a abertura do trabalho de Tim Bernardes, “Mil Coisas Invisíveis” (2022), que foi muito elogiado pelo público e pela crítica. Apesar da curta duração da canção, Tim entrega um recado reflexivo e profundo sobre a vida, sintetizando várias questões que ele costuma trabalhar em suas músicas: “Morrer / De a ausência, presença do inexistente / Do silêncio com seu volume gigante / Limite pra além do azar e da sorte / Que prova existir vida antes da morte /Que une e separa o todo da parte”.

Várias Queixas – Gilsons

Fechando minha lista das MPB atuais, não poderia deixar de fora da lista a preciosidade “Várias Queixas”. A música foi lançada em 2012 pelo Olodum, mas ganhou uma enorme projeção com os Gilsons. Além do arranjo moderno para um axé tradicional, eles carregam o talento da família Gil. Não tinha como dar errado, né? “No suíngue do Olodum, me leva, com você eu vou”.

Melhores playlists de MPB para diferentes momentos

E aí, curtiu esse passeio por toda a riqueza que a Música Popular Brasileira oferece? E olha que isso ainda não é nada! Se você ficou com aquele gostinho de quero mais, por que não desfrutar das nossas seleções de músicas da MPB escolhidas a dedo?
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