Dia do Funk: como o estilo mudou a cultura musical no Brasil e influencia artistas no mundo todo
Sete de julho é o dia em que se celebra oficialmente, em todo o estado de São Paulo, o Dia do Funk, uma homenagem ao estilo musical criado nas comunidades e na periferia do Rio de Janeiro. O gênero também conta com uma data de celebração em nível nacional, no dia 12 de julho.
Em pouco tempo, o funk brasileiro se espalhou por todos os estados do país e, atualmente, é tocado nos fones de ouvido de nomes como Drake e Diplo e serve até de trilha para propaganda da marca de luxo Chanel.
A escolha da data não foi aleatória: em 7 de julho de 2013, morreu, aos 20 anos de idade, o paulistano MC Daleste, após ser baleado na barriga durante um show em Campinas (SP). O caso nunca foi solucionado.
Apesar da tragédia, que completa dez anos, é preciso lembrar do valor do funk feito no Brasil, e a data deve, então, com respeito, ser celebrada. Afinal, os cariocas sempre curtiram dançar esse tipo de funk em bailes, como os organizados por equipes de som, como Cash Box e Furacão 2000, desde os anos 1980.
O som que dominava a pista ainda era o Miami Bass, um tipo de funk americano que carrega nas batidas graves e traz letras cheias de conteúdo sexual. Alguns dos artistas mais conhecidos do estilo são 2 Live Crew, DJ Magic Mike, Sir Mix-A-Lot, Amos Larkin, Maggotron e J.J. Fad.
Se o Miami Bass dos EUA já agradava a galera, faltava a versão nacional. Nasceu, assim, o primeiro funk genuinamente carioca da história: “Melô da Mulher Feia“, do MC Abdula, em 1989. Ela foi a primeira faixa gravada para a coletânea Funk Brasil.
Considerado o marco zero do estilo no país, o álbum Funk Brasil foi produzido por Fernando Luís Mattos da Matta, nome real do DJ Marlboro, figura de suma importância e verdadeiro criador do que passou a ser chamado de funk carioca.
Inicialmente, o funk carioca sofreu uma certa rejeição por parte da sociedade brasileira e foi (e ainda é) alvo de críticas por, em algumas letras, fazer citações diretas ao sexo e ao tráfico de drogas, o que acaba sendo interpretado como apologia por alguns críticos. Mas ainda assim trata-se de um movimento cultural genuíno, ao abordar os temas que cercam a vida de uma parte importante da sociedade. Basta ouvir a poderosa “Rap da Felicidade“, de Cidinho & Doca, certamente o funk mais famoso do Brasil por causa do refrão “Eu só quero é ser feliz/Andar tranquilamente na favela onde eu nasci…”.
Aliada nobre
O ano de 1994 pode ser considerado outro marco do funk carioca. Foi naquele ano que DJ Marlboro conseguiu uma rainha como aliada. A dos baixinhos! A apresentadora Xuxa convidou Marlboro para ser o DJ oficial de seu programa das tardes de sábado na TV Globo. O funk carioca atingiu definitivamente o país todo. Entre outras parcerias com Xuxa, Marlboro assinou a produção de “Dança da Xuxa”, a faixa 100% funk do álbum XSPB 6 (2005).
Foi também graças à Xuxa e a seu programa que Claudinho & Buchecha conquistaram o Brasil todo em 1996 com hits como “Só Love” e “Quero Te Encontrar“.
Com o passar dos anos, o funk carioca só cresceu em popularidade e, com isso, brotaram outras ramificações do estilo:
- Funknejo – mistura funk e sertanejo, com MCs e acordeom juntos. Artistas: na maioria das vezes, sertanejos com a participação de funkeiros.
- Brega Funk – de Pernambuco, conquistou fama por todo o Norte e Nordeste ao misturar brega, arrocha e funk carioca. Artistas: MC Leozinho do Recife, MC Dadá Boladão, MC Tocha, MC Tróia, Priscila Senna, Shevchenko e Elloco e MC Cego Abusado.
- Funk melody – com letras românticas e melodias suaves, tem influências do R&B e do pop. Artistas: Claudinho & Buchecha, MC Marcinho, Copacabana Beat e Latino.
- Funk ostentação – conta com letras que abordam consumo de bens de luxo, como carros importados, roupas de grife e joias. Artistas: MC Guimê, MC Lon, MC Rodolfinho e MC Boy do Charmes.
- Funk proibidão – suas letras tratam de temas polêmicos ou controversos, como violência, crime e sexo explícito. Artistas: MC Frank, MC Smith, Mr. Catra e MC Tikão.
- Funk ousadia – irreverentes e cheias de provocação, as letras falam sobre festas, diversão e relacionamentos amorosos. Artistas: MC Koringa, Nego do Borel, MC Duduzinho e MC Pocahontas.
- Funk consciente – temas sociais e políticos, como desigualdade, violência policial e discriminação racial, são o foco das letras. Artistas: MC Garden, MC Leonardo, MC Cidinho e MC Doca.
Os gringos e o funk carioca
Em 2005, o funk carioca iniciou a sua internacionalização. Foi quando a cantora Maya “M.I.A.” Arulpragasam convidou para o palco de seu show no Tim Festival a funkeira feminista Deize Tigrona.
M.I.A. havia lançado naquele mesmo ano “Bucky Done Gun”, música inspirada em “Injeção“, de Tigrona. O som do funk foi apresentado por seu namorado na época, o produtor americano Diplo, um dos maiores divulgadores do estilo genuinamente carioca fora do Brasil.
Já neste século, o funk ganhou espaço internacionalmente em parcerias com artistas como Drake, Anitta, Will.I.Am, Ludmilla e Cardi B.
Em 2019, até o mercado de luxo se rendeu ao estilo. Um comercial do perfume Chanel Nº 5, carro-chefe da marca francesa, trouxe como trilha o som do funk carioca. C’est très chic!
Para o alto e avante!
O futuro do funk carioca parece promissor. O projeto Estude o Funk (#estudeofunk), iniciado em janeiro de 2023, tem o objetivo ajudar novos artistas do ritmo a se desenvolverem musicalmente. Realizado no Rio de Janeiro, o processo de formação reúne 50 funkeiros e tem patrocínio do Governo do Estado.
Iniciativas como essa podem ajudar ainda mais o funk a se estabelecer como um dos estilos mais legítimos da música popular brasileira. Afinal, quem nunca arriscou uns passinhos de funk entre os milhões de vídeos com coreografias no TikTok?
Quer saber mais sobre o funk brasileiro? A Deezer tem a websérie Funk Brasil, trazendo dez entrevistas com nomes fundamentais para o funk, como DJ Marlboro, MC Abdullah e Deize Tigrona. Bota pra tocar!
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