Em apenas uma semana, nada menos que um milhão de streamings. Esse é um dos feitos de Yin Yang, EP recém-lançado das irmãs Tasha & Tracie, as gêmeas da quebrada que estão entre os maiores destaques do rap do Brasil.
Dia de baile no hip hop brasileiro
O Dia dos Namorados foi a deixa perfeita para o lançamento de Yin Yang, que as cantoras do momento gravaram com seus próprios crushes, Kyan e Gregory. O EP é o primeiro lançamento das irmãs desde Diretoria, de 2021, que traz faixas como “Lui Lui” e “SUV”. As novas faixas foram apresentadas no Batekoo Festival 2023, que tinha como temática a conexão entre a ancestralidade do movimento negro e suas manifestações atuais. As seis faixas do EP têm um clima romântico e sedutor e contam com a participação dos namorados das duas irmãs. No comunicado oficial de lançamento, as irmãs explicam que a ideia do nome veio da visão que elas têm sobre um relacionamento amoroso, um misto de polaridades e similaridades.
A narrativa romântica e envolvente vai se construindo faixa a faixa, começando com “Dia de Baile”, que combina a batida do rap tradicional com um suingue contagiante. Na sequência, “Fortal” tem uma letra explícita e sensual, com uma melodia mais lenta. Já “Tom sobre Tom” é uma espécie de hino ao empoderamento das quebradas, tema constante nas músicas da dupla: “Sou a verdade que ninguém contou. O time que ganha e ninguém apostou. Sou a barreira e ninguém derrubou. Eu sou o mar que Moisés não passou (eu sou). Mano, eu sou barulho”.
Rap, Trap e Trend
Quase evocando o início da carreira das gêmeas, “Fechamento” fala sobre consumo, ambição, aspiração e moda. Na letra, o rapper Gregory canta: “E a minha preta tá como tem que ser. Celine e Ferragamo Pra duni-duni-tê. Balmain, tem mais, falar pro cê. Quando ela atinge essas meta é que a magia acontece”. É que Tasha e Tracie ficaram famosas no tempo dos blogs, quando criaram o Expensive Shit para mostrar os looks que criavam com roupas compradas em brechós – as únicas que tinham condições de pagar à época. E seu estilo se tornou sinônimo de uma moda cool, inspirando jovens negros das periferias ao falar sobre temas como autoestima e autonomia.
O tapa na cara dazinimiga se concretizou quando elas foram as primeiras brasileiras a figurar no portal “Afropunk”, referência mundial em estilo, e quando participaram da versão brasileira da websérie da ID “Beyond Beauty with Grace Neutral”.
Mas voltando ao EP Yin Yang, a faixa seguinte, “Desce Licor”, foi feita sob medida para a balada, falando sobre camarote, bebidas e noite. O clipe, produzido por Wall Hein e Castro, é puro suco de hip hop: carrão, joias, figurino sexy, briga, ciúmes, flerte e grifes (de bebida, no caso). Para encerrar o álbum, “Drake da Capital”, um trap nacional com ritmo mais acelerado, traz uma letra que fala de racismo (logo no começo, Kyan manda “tipo quando abaixo vidro e o PM vê a pele preta”, e “aquele menó que é a cara do meliante”) e empoderamento, afinal, as braba seguem sendo as braba. Só respeite.
Respeite as braba
Yin Yang é apenas um esquenta para um álbum inédito, que deve ser lançado ainda neste ano, segundo as próprias cantoras. Os fãs aguardam ansiosos para ver o que as gêmeas que cresceram no Jardim Peri, na Zona Norte de São Paulo, vão aprontar. Elas são filhas de Roseane Aparecida do Nascimento e do nigeriano James Okereke, de onde vem seu sobrenome.
Há cerca de cinco anos, as irmãs de 28 anos vêm marcando seu nome na cena do rap nacional. Ao longo dessa trajetória, elas têm realizado parcerias de peso, como em “Sou Má”, uma colaboração com Ludmilla, e “O que ela quiser”, com Felipe Flip. As irmãs ainda dividem os vocais com Gloria Groove em “Pisando Fofo”, do aclamado álbum Lady Leste.
Levando adiante sua mensagem de emancipação e valorização da cultura negra e periférica, Tasha e Tracie ainda atuam como DJs, diretoras de arte, designers, palestrantes e ativistas. “Não queremos nos limitar”, costumam dizer em entrevistas. E, com toda essa energia em jogo, quem disse que precisa?
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